Desculpem a ausência mas a preguiça tem sido mais forte que eu e bastante difícil de combater (devo confessar). Mas hoje ganhei forças para vir, finalmente, partilhar com vocês os últimos acontecimentos na vida da faneca (e o seu amigo pato) não só no Dubai, mas por esse mundo fora! ;p
Depois de regressar de Londres fiquei 2 dias no bem bom do meu novo lar! Esperava-me Karachi (Paquistão), Dhaka (Bangladesh) mais uma vez, Doha (Qatar) e por fim Milão (Itáliazinha!!! :D)
Mas o voo para Dhaka foi especialmente gratificante. Passo a contar a história do "Voo mágico"!
Depois de embarcarmos quase todos os passageiros, surgiu uma senhora, que tinha um lugar na minha secção, com um ar muito triste e abatido. Sentei a passageira e continuei o meu serviço. Passados alguns minutos fui chamada por outros passageiros que repararam que alguma coisa não estava bem com a dita senhora. Chorava num pranto e num desespero só visto. Fiquei aflita com a impossibilidade de a conseguir ajudar pois ela mal conseguia falar e não dizia uma palavra de inglês. Dei-lhe água, lenços de papel, segurei-lhe a mão, mas nada estava a ter qualquer tipo de efeito.
Então, sem encontrar mais nenhuma forma de a ajudar, chamei o único colega que falava Bengali neste voo. Ele lá se dirigiu à senhora com todo o cuidado e eu afastei-me para lhes dar espaço e continuar as pre-departure duties. O meu colega acabou por nos vir explicar o que se estava a passar com a senhora.
Resumindo e concluindo, a senhora veio atrás de um emprego prometido aqui no Dubai para conseguir sustentar a família (3 crianças e marido) e entregou todas as poupanças da sua vida (cerca de 10.000 Dirhams) a um aldrabão que lhe ia tratar do visto para que tal fosse possível. Para além desse dinheiro ainda gastou o da viagem. Quando chegou ao Dubai não havia visto nenhum pronto e, provavelmente, o trabalho também seria fictício. Foi repatriada ainda no mesmo dia. Imaginem o desespero da senhora que ia regressar a casa, depois de gastar todas as poupanças a pensar que estava a investir num futuro melhor, com 3 filhos pequenos à espera (e sem dinheiro para os alimentar) e provavelmente um marido que a ia desfazer mal chegasse a casa.
Aquilo mexeu comigo...aliás, mexeu com todos. 10.000 dirhams é o que nós ganhamos num mês...esta criatura demorou a vida inteira a juntar essa quantia. O meu colega explicou-nos que a média do ordenado mensal é de 100 dirhams e muitas famílias sobrevivem com essa quantia. Começamos a achar aquilo muito injusto e revoltante. Esse é o dinheiro que gastamos em cafés no Costa numa semana. Perguntei-lhe se 70 Dirhams (era o dinheiro que eu tinha na carteira) iriam ajudar em alguma coisa aquela senhora. O incrível é que todos, mas TODOS (sem excepção) se uniriam e deram o dinheiro que tinham nas suas carteiras. Purser, Capitão, 1st Officer e até alguns passageiros que se aperceberam da situação e antes de desembarcarem foram dar dinheiro à senhora.
Conseguimos juntar uma quantia muito simpática (1.700 dirhams, suficiente para se aguentar uns bons meses) que colocamos dentro de um envelope, o meu colega escreveu uma carta em bengali para que ela entendesse (e que todos assinamos), eu enchi um saco com brinquedos (dos que temos para oferecer às crianças durante o voo) para os filhos, as meninas da business class trouxeram flores e chocolates...e por fim a nossa Purser e o nosso colega foram entregar o "cabaz" à passageira que no início não percebeu nada daquilo que se estava a passar. Quando finalmente percebeu que a estávamos a ajudar a gratidão e felicidade da senhora foi comovente.
Como era uma repatriada, foi a última a desembarcar. Acompanhei-a desde o lugar até à porta de desembarque e durante todo o caminho ela veio a fazer-me festinhas no braço enquanto caminhávamos. Toda a equipa fez questão de se despedir da senhora antes de ela abandonar o avião. Foi um momento daqueles que se guardam para o resto da vida.
O regresso foi muito agitado. O avião estava completamente cheio e ainda fiz um upgrade a um senhor "magrito e pequenito", muito querido e humilde para a business class. Era ver a cara de satisfação daquele senhor. O acento era, provavelmente, maior que o quarto dele!
Tivemos um feedback incrível dos nossos superiores. Cheguei a casa com o coração e a alma cheia!
2 dias depois... MILÃO! Voo atarefado. Chegamos lá partidinhos, mas arranjamos forças para ir ao centro passear, comer uma pizza e beber umas "jolas".
Duomo di Milano |
As forças não deram para muito mais. Cheguei ao hotel e mais uma vez entrei em coma profundo numa cama do tamanho de uma piscina.
Buonasera Milano! |
Acordei no dia seguinte cheia de fome e fui tomar o belo do pequeno almoço que concluí com um cappuccino fenomenal.
Buongiorno Milano |
Para minha grande alegria, o supermercado ao lado do hotel tinha Mateus Rosé!!! Evidentemente que veio uma garrafa comigo na mala bem coladinha ao pato.
Seguiram-se os bem merecidos dias de folga!
"these are few of my favorite things" |
"it's raining men" |